Você já ouviu o dito que para se ter um bom casamento acima de tudo está o amor? Este pensamento vem sendo construído com maior força desde o século passado, com a produção cinematográfica de Hollywood e, mais remotamente, por meio dos contos de fadas internalizados pela cultura ocidental. E, assim, se traduz como uma máxima onde apenas o amor é suficiente para manter um bom casamento através da ideia “e foram felizes para sempre”.
As crenças construídas a partir dessa ideia estão em nossa mente com os conceitos de que o amor é o passaporte para a felicidade, o outro é minha cara-metade, é uma pessoa maravilhosa que me completa numa idealização de superar tudo em nome do amor e com a anulação da pessoa que ama.
De acordo com a Teoria Familiar Sistêmica trazemos em nossa bagagem uma concepção de mundo que nossa família de origem e a sociedade construíram através de gerações, na busca pelo amor perfeito e não nos damos conta de que escolhemos nosso cônjuge por motivações inconscientes, idealizando uma pessoa que vá nos suprir de todas as nossas carências afetivas. Desta forma, a tendência é de repetirmos padrões, ora bons, ora ruins, em nossos relacionamentos. Fazemos isto porque nossas primeiras experiências na infância, quando ainda não podíamos nos dar conta de nós mesmos, provocaram algumas lacunas emocionais. Estas lacunas deixam nosso cérebro “preso” nessa perspectiva infantil e assim, acionamos este mecanismo quando nosso cônjuge não responde a altura das nossas necessidades afetivas que não foram correspondidas por nossos cuidadores durante a infância.
Você já viu esse filme antes? O final dele é como os do cinema ou das histórias de princesa? Passada a paixão dos primeiros anos/meses de casamento nos deparamos com a realidade das primeiras decepções até que aquilo que acreditávamos seja colocado à prova. Isso nos leva a questionar se a pessoa que escolhemos não é a certa ou ainda desacreditamos do amor conjugal.
Mas há um outro caminho. Repensar esta forma de amor que nos foi vendida com a promessa de que estaremos na completude de nós mesmos é uma forma de criar uma nova perspectiva. Podemos então, seguir em busca de sermos completos por nós mesmos, pois somos um inteiro em relação com o outro inteiro e não duas partes que se completam como na crença de que “ encontrei a tampa da minha panela”. Somos um inteiro com falhas e defeitos como o outro é, mas podemos construir uma conjugalidade funcional a despeito de tudo isso. Primeiro nos conhecendo, aceitando e assim, sabendo quem sou, posso mergulhar no universo do outro sem me misturar e me perder, pois estando completo em mim mesmo é que estarei pleno para viver o “nós”!
Claudia Luçoli – CRP 12/02078
Psicóloga, graduada pela Universidade do Vale do Itajaí- Univali. Formação em terapia comportamental. Pós-graduada em Terapia Familiar Sistêmica, pela FLT. Trabalha com terapia individual, casais e família.